Desde a chegada da Psicanálise no Brasil, nas primeiras décadas do século XX, teve início uma análise que já dura aproximadamente um século. O Brasil, estendido sob diferentes divãs ao longo dos anos, foi objeto de estudo de inúmeros especialistas das profundezas da alma. Contudo, apesar das distintas perspectivas teóricas e metodológicas, essas análises invariavelmente apresentaram – e continuam apresentando – conclusões muito semelhantes entre si, diagnosticando o/a brasileiro/a enquanto um tipo marcado pela transgressão ou recusa da lei, pelo cinismo, pela perversão do laço social, portador de falso-self, bovarista – em síntese, um sujeito que não ascendeu à condição de sujeito. Neste livro, o autor questiona o porquê dessa repetição diagnóstica: afinal, essas interpretações estariam manifestando uma verdade cabal sobre o/a brasileiro/a – o que justificaria a repetição diagnóstica – ou, pelo contrário, a psicanálise estaria reiterando certas ideias e corroborando a construção de mitificações e ideologias? Seria o divã de nossos/as analistas um lócus de libertação ou aprisionamento? Esta obra analisa como essas interpretações foram gestadas, em quais referências nossos/as psicanalistas se apoiaram para compreender e "escutar" o Brasil, apontando, também, para algumas possibilidades de superação dessa espécie de armadilha que representa a repetição diagnóstica, da qual nossa psicanálise parece não conseguir se desvencilhar.

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