O livro, fruto de uma pesquisa de mestrado, tem por objetivo apresentar uma etnografia a respeito da percepção e visão de mundo de pessoas analfabetas em uma sociedade majoritariamente letrada. Em um primeiro momento, busca-se compreender como o analfabetismo de jovens e adultos foi socialmente construído como um problema social no Brasil. Em um segundo momento, por meio da escuta atenta das histórias de vida de duas pessoas analfabetas, Maria e Iranildo, percebemos os desafios que enfrentam por não dominarem a leitura e a escrita. Nesta segunda parte, explora-se como eles vivenciam a condição de analfabeto como falta e incapacidade de adaptação ao mundo letrado, ou seja, o analfabetismo pelas lentes do estigma. Nessa perspectiva buscamos compreender como o analfabetismo se tornou um estigma – no sentido goffmaniano – e, com isso, fonte de sofrimento para aqueles que não sabem ler e escrever. No terceiro momento da obra, busca-se compreender como a leitura de mundo de pessoas que não sabem ler e escrever permite tornar visível elementos da vida que pessoas alfabetizadas não percebem. Em vez de tomar o analfabetismo como incapacidade, nos perguntamos, como seria se pensássemos essa condição como uma outra forma de ser e estar no mundo? E em que medida a incapacidade de leitura da palavra ensina a nós, letrados, a ver – e por que não dizer ler? – aquilo que não vemos – ou não lemos? Nesse sentido, olhamos para as pessoas analfabetas como uma outra forma de ser e estar no mundo.

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